21 abril 2012

Cosméticos nacionais e importados vendidos legalmente no Brasil: o porquê de preços tão altos

Alguns cosméticos no Brasil, mais do que parecerem jóias, custam tanto quanto. 
-- imagem retirada do site Luxury Launches.

Por quê o preço dos cosméticos, no Brasil, é tão alto?
     Dior, Lancôme, Bourjois, Clarins, M.A.C. Marcas de cosméticos tão divulgadas no nosso meio e tão desejadas por nós, brasileiras. Itens por aqui considerados "de luxo", embora, lá fora, o maior luxo que para nós elas aparentam ter é o fato de poderem ser compradas por indivíduos de (quase) todas as classes, credos e cores. Não que sejam baratas, não é isto! É só que, com muito menos do que se pede por aqui, uma pessoa "do estrangeiro" consegue levar para casa um dos nossos "objetos de consumo"...

     Segundo a revista ISTOÉ Dinheiro, a Sephora estava relutante em ingressar no mercado brasileiro justamente pela altíssima carga de impostos dos cosméticos, o que impede que seus produtos tenham competitividade com os nossos produtos nacionais. Para se ter uma ideia, segundo a revista Época NEGÓCIOS, os impostos "deixam a 'beleza feminina' 51% mais cara".

     Isto não é muito difícil de se comprovar. Se acessarmos o próprio site da Sephora americana, por exemplo, ao transformarmos o valor de um produto em dólar para reais, comparando o resultado obtido com o valor do mesmo produto no site da Sephora no Brasil - ainda Sacks -, nossa primeira reação posterior à automática cara-de-espanto é se perguntar mentalmente: Por quê?

     Atualmente, a carga tributária brasileira que atinge um produto cosmético compõe-se dos impostos IPI, ICMS, além das contribuições sociais PIS e COFINS. E isto - destaque-se - para os produtos fabricados no Brasil! Se o produto em questão se tratar de um importado, há a incidência, ainda, do Imposto de Importação, e aí...



Um "cadinho" de Direito Tributário, só pra entender o que é cada tributo...

  • IPI - o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) é um imposto arrecadado pelo Governo federal que recai sobre os produtos industrialmente produzidos (dã!). É um imposto seletivo, o que significa que sua alíquota (percentual) será maior ou menor de acordo com uma dada característica - no caso, a essencialidade de um produto. Quanto mais essencial é um produto à população, menor será a sua alíquota, e vice-versa. Ele incide em diversas situações, como: a) importação; b) saída do produto do local onde é fabricado; c) aquisição de produto em leilão judicial; d) primeira saída para revendade produtos importados. Por conta disto, é fácil notar que é um imposto que incide tanto sobre os cosméticos nacionais quanto sobre os importados.

  • ICMS - o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) é arrecadado pelo Governo estadual em diversas situações diverentes, sendo a circulação de mercadorias propriamente dita a que importa a nós neste momento. Para tanto, considera-se "circulação" a mudança da propriedade do bem, entende? Assim, produtos meramente consignados não se sujeitam a tal imposto, ainda que a mercadoria tenha efetivamente "circulado". A partir de 2001, o imposto passou a incidir, também, sobre os bens ou mercadorias importados do exterior (nossa! rs!), seja pessoa física ou jurídica. Sua alíquota (percentual) varia de Estado para Estado, podendo este fixá-la, também, de acordo com a essencialidade do produto.

  • PIS - a contribuição para o PIS (Programa de Integração Social) não incide propriamente sobre um produto individualizado, mas sobre o lucro bruto que a pessoa obtiver com a venda daquele produto. Assim, se o produto custa R$ 3,00 e foi vendido a R$ 5,00, sobre os R$ 2,00 supostamente "de lucro" incidirá a alíquota de 2,2%, de modo que, para obter o lucro que almeja, o vendedor deverá levar em consideração o quanto pagará de PIS na hora de fixar o preço.

  • COFINS - a COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), em sua modalidade "Importação", foi instituída em 2004 para tributar a importação de bens e serviços. É paga apenas pelos importadores, numa alíquota de 10,3%.
     Olha, não vou ficar aqui destrinchando cada tributo e fazendo cálculos. Primeiro, porque eu sou péssima nisto. Segundo, porque se eu gostasse de matemática não tinha feito Direito. E, terceiro, porque a Renata, do Conversa de Beleza, já fez um post excelente sobre isso, que pode ser conferido aqui

     Mas, de qualquer modo, vale a pena consignar que, mesmo assim, os vendedores, no Brasil, ainda costumam visar o lucro excessivo, aplicando preços que, muitas vezes, chegam a ultrapassar 8 vezes o custo do produto, já com toda a carga tributária incluída!

     Daí eu pergunto: "Qual o maior mal que assola os cosméticos brasileiros: a altíssima carga tributária, ou a ganância dos vendedores?" Não é por nada não, mas eu fico com "a ganância dos vendedores". Por quê? Ora, compare uma sombra da Vult (R$ 8,36, na Panvel) e uma sombra d'O Boticário, linha Make B (R$ 49,99 pelo duo, o que dá R$ 24,49 por cada sombra)... Será que existe uma diferença significativa no processo de fabricação de cada marca, que faz com que as sombras d'O Boticário sejam muitíssimo mais caras do que as da Vult? (e não vou nem entrar no mérito da quantidade que vem em cada produto!)

     Alguém talvez perguntaria: "Mas a embalagem da linha Make B d'O Boticário é muito superior à da Vult, então não é por isso que as sombras d'O Boticário são bem mais caras?" Bah! Que tal, então, o preço do refil das sombras do Boti, que custam R$ 34,99, ou seja: R$ 12,48 por sombra? Agora, o mais legal é comparar o desempenho de cada marca, porquê a marca mais barata é justamente a que possui as sombras mais pigmentadas dentre elas!

     Então, na minha opinião, a culpa é mesmo mais da ganância do que dos tributos em si, e não vou nem discutir a respeito da Natura, por quê os preços da linha Una são os mais ridículos que já vi por produtos com desempenho pífio! - tirando o lápis longa duração, é claro!

     Eu não sou economista e sei que minha visão é bastante simplista, mas meu próximo post ilustrará bem esta questão da "ganância" que coloquei aqui... De qualquer forma, do modo como os preços no Brasil são praticados, mesmo em relação aos preços nacionais, qualquer operação do Poder Público visando diminuir a venda de produtos importados e aumentar a venda de produtos nacionais me parece um tanto quanto "inútil". Sempre haverão meios de se "burlar" essa majoração absurda de preços, com o intuito de se adquirir um produto por um preço mais "justo". Por isso, acredito que, antes de sair por aí taxando a torto e a direito as encomendas internacionais que vêm pelos Correios, o Poder Público deveria se concentrar na seguinte questão: "O que pode ser feito para que os cosméticos nacionais sejam vendidos a preços justos?", e então, e somente assim, seria viável discutir-se a implantação de uma ideologia cosmética mais "nacionalista".

     Abraços,
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Postado por Stelle Semijoias

2 vaidosos comentaram:

L. G. Alves disse...

Puxa, adorei o teu post, como sempre. Eu fico tão revoltada com a altíssima carga tributária e a ganância dos vendedores! Eu até faço posts sobre o assunto. Fiz um estes dias sobre o preço alto do Maybelline Baby Lips Lip Balm. É um absurdo! Por que o Brasil é assim? Não entendo os motivos de uma altíssima carga de impostos. E para onde vai esse dinheiro? Será que está indo para os locais certos e para quem precisa?

Stelle Semijoias disse...

@SENHORITA L.

Li teu post sobre o lip balm da Maybelline e, realmente, é ridículo o valor que estão pedindo! Essa questão de "para onde vão os impostos" foi bem discutida em outro post da Renata, do Conversa de Beleza - procure pela categoria "Impostos" -, e obviamente os valores arrecadados não são aplicados do modo como se deveria. Daí porquê, uma vez mais, acredito que o maior problema no Brasil é a ganância da população. Se não houvesse corrupção, a carga tributária não careceria de ser altíssima para (mal) cobrir as despesas que são custeadas com o produto da arrecadação. Da mesma forma, se não fosse pela ganância, os vendedores se contentariam com mark-ups mais baixos, e o preço final, apesar de cheio de tributos, ainda seria razoável.

Obrigada pelo comentário! Bjos!

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